Flávia Dourado
Especial para o UOL Ciência e Saúde

Há 400 anos Galileu inaugurava uma nova era na astronomia ao observar o céu com um telescópio. Desde então, uma legião de astrônomos explora o universo com o uso de instrumentos óticos. E não se trata apenas de cientistas, munidos de tecnologia de ponta e conhecimentos sofisticados. Amadores também conseguem, com um pouco de estudo e equipamentos mais simples, entender a dinâmica dos astros e ainda realizar algumas descobertas. Mas, para isso, precisam ter disposição de passar por algumas etapas.
Os especialistas recomendam que os iniciantes na astronomia comecem observando o céu a olho nu. Com o auxílio de apenas um planisfério - espécie de mapa celeste em forma de disco que indica a posição das estrelas de acordo com o hemisfério, data e horário da observação - os novatos na atividade devem aprender a identificar e localizar as principais constelações.

"As cartas simulam o movimento aparente do céu, que nada mais é que o nosso planeta rodando em torno de si mesmo. Também simulam como a parte do céu que podemos ver muda ao longo do ano devido ao movimento de translação da Terra ao redor do Sol", explica o físico e astrônomo amador Dulcidio Braz Jr.

Conhecer o céu usando um planisfério é o passo inicial que prepara os amadores para adquirir o seu primeiro instrumento ótico: um binóculo. Portátil, barato e fácil de usar, este instrumento oferece um campo de visão aberto, que permite observar uma grande porção do céu. Com ele, é possível ver galáxias, nebulosas (nuvens de poeira e gás), pedaços de constelações, aglomerados de estrelas, detalhes da Lua, entre outros objetos celestes.

O modelo ideal para iniciantes é o 7x50. O primeiro número indica a capacidade de ampliação do instrumento e o segundo, o diâmetro da objetiva (abertura), em milímetros. "O binóculo 7x50 oferece imagens nítidas (fáceis de focalizar) e permite ver uma grande quantidade de elementos no céu, fatores que facilitam a identificação dos astros", explica o astrônomo amador e diretor de programação do GEA (Grupo de Estudos de Astronomia, de Florianópolis), Antônio Lucena. Além disso, um instrumento deste modelo é barato - custa de R$ 150,00 a R$ 200,00 - o que resulta em uma ótima relação custo/benefício.

Somente após ter domínio da observação feita com binóculo, o iniciante deve partir para um investimento maior: o telescópio. Lucena explica que seguir estes passos é importante para que o astrônomo amador não se frustre e acabe desistindo da atividade. "A observação com equipamentos é melhor aproveitada se a pessoa já tiver estudado o suficiente para identificar aquilo que está vendo. Caso contrário, ela se decepciona, pois não reconhece nem entende o que vê".

Os telescópios variam muito em tipos, dimensões e preços. Para os que estão começando e vão comprar o seu primeiro equipamento, o mais indicado é um refletor (que usa um espelho no lugar da lente objetiva), com uma abertura de aproximadamente 120mm e distância focal entre 750 e 900mm. O preço varia de R$ 1.000,00 a R$ 1.500,00.

Um equipamento desse tipo multiplica consideravelmente as possibilidades de observação. Com ele, o iniciante já consegue focalizar bem os astros e ver com detalhes os anéis de saturno, estrelas múltiplas (que a olho nu parecem apenas uma, mas na verdade são duas, bem próximas), estrelas variáveis (cujo brilho varia com o tempo), as crateras e montanhas da Lua e uma infinidade de corpos celestes.

A abertura é a característica principal de um telescópio, pois determina a entrada de luz, elemento crucial na formação de uma imagem nítida. Quanto maior a abertura, maior, melhor e mais caro será o instrumento. Já a distância focal, menos importante, define o poder de ampliação das imagens. Sua medida corresponde à distância requerida por uma lente ou espelho para focalizar a luz.

Depois de adquirir seu primeiro telescópio e explorar as possibilidades de observação que eles oferecem, os astrônomos amadores tornam-se experientes o suficiente para escolher seus próximos equipamentos, para observar o céu com mais autonomia e, quem sabe, até realizar alguma descoberta.

Outro caminho possível é se aventurar na astrofotografia, atividade que requer um bom tempo de estudo. Braz Jr., astrofotógrafo iniciante, conta que é preciso um longo processo até que o astrônomo esteja pronto para a atividade. "O ideal é estudar muito, aprender a observar o céu com telescópios e só então partir para o uso das câmeras".

Fonte: UOL Ciência e Saúde